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Só Não Esquece o Corpo Porque Tá Colado


Foto original: Site das curiosidades

Como guarda segredos, o corpo... Bobo sou por achar que o domino, achar que ele é meu instrumento. Tenho pensando que, possivelmente, eu é que seja o instrumento dele. O corpo tem intenções próprias, sabe o que quer. Seu dono é que às vezes não sabe. Na verdade, na maioria das vezes, ele nem desconfia.

Me aflige pensar que qualquer coisa pode acontecer a ele. Pensar que, num triz, posso arranhá-lo, ferí-lo, perder parte dele, ou simplesmente matá-lo. Minha missão é cuidar dele e entender o que ele deseja. E penso que essa missão não é tão fácil quanto parecia ou quanto me ensinaram que seria.

Meu assombro é quando ele me limita, me castra. Quando quero ir para uma direção, pois tenho pressa e medo de não ir para lugar algum e ficar à deriva, e ele me diz que devo ficar. Que devo parar. Que não posso ir.

Como é que minha cabeça não tem o poder de decidir? Por que é que ela não pode me levar a qualquer lugar do mundo sozinha? Por que é que é necessária a autorização, carimbada, de um outro, que eu penso ser eu, mas que, muitas vezes, realmente parece outro? Um outro que não se comunica comigo na língua que conheço.

Tento compreender suas formas de me avisar quando estou infeliz. Suas formas de me dizer quando não estou à vontade. Seu jeito nada claro de me alertar do perigo que sou para mim mesmo e do quanto eu jogo contra o trabalho dele.

Noto que nos suicidamos aos poucos. Ingerimos toxinas embaladas como coisas rápidas, práticas e gostosas. Deixamos que nossas certezas e incertezas pesem em nossos ombros, fazendo eles cederem, fazendo as costas entortarem, fazendo os braços quebrarem, fazendo as pernas derreterem, até que nada sobre. Queremos ou não estar aqui? Ele quer ou não que permaneçamos aqui?

Não quero usar esse corpo, me apropriar dele. É tão trabalhoso! E eu já estou lotado de trabalho! Já pedem demais da minha mente todos os dias. Me pedem para fazer uma infinita quantidade de coisas que não quero, mas faço. Não permito que ele também queira mandar em mim. Ele acha que devo usar mais meus braços e pernas, mas a força deles se esvaiu com o esforço mental excessivo que fiz hoje para garantir meu amanhã, sem esquecer do ontem.

Ele sabe. Ele tem a resposta que não tenho. Ele sabe e guarda esse segredo mortal consigo.

Eu não sei e tenho que continuar mesmo assim. Umas lágrimas escapam, e elas são mudas. Uma expressão minha, que nem parece vir de mim. Nem consigo racionalizar sobre elas, sobre o que querem dizer, sobre o que dizem. Eu apenas sinto. Sinto o que ele, em conjunto com todo o meu eu, me leva a sentir.

E o que é o meu eu se não uma contradição infinita entre o que minha mente quer e o que o meu corpo precisa?

E lá vai o corpo, guardando seus segredos...

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