Minha Terra Tem iPhone
Minha terra tem palmeiras, Mas o que importa é comprar, As aves aqui são pombas, Não tem árvore pra sabiá,
Se um emenda um assovio, A buzina logo vai tampar, As negras hoje são brancas, Com cabelo a alisar,
Fico feliz em assistir gente, Que diz coisas que não entendo, No telão, os carros são potentes, Enquanto no metrô estou me fodendo,
Nosso céu tem menos estrelas, Que a bandeira americana, Nossos bosques são os shoppings, Porque lá é mais bacana,
Mesmo assim, a vida vai seguindo, Junto das estatísticas de lucro, Com óculos e boné me sinto lindo, Mesmo, na verdade, sem ter um puto,
Lutas, vampiros, perseguições policiais, Melhor que o Saci que conheci na escola, Prefiro batidas fortes e sensuais, A pandeiros, poesias e violas,
Finjo falar essa língua estranha, Mesmo sem ter aprendido a minha, Lá tem Mickey, Garfield, Homem-Aranha, Enquanto na minha terra só tem Cebolinha,
Em sonhar, acompanhado, na balada, Sonho um dia em deixá-la, Minha terra tem muito iPhone, Mas tem poucas lojas Zara,
Busco discos de carne rápida, E bebidas quentes com meu nome no copo, Deixo a tapioca para gente ultrapassada, E uso tênis caro para mostrar que posso,
Eu preciso de objetos e comidas, Para rechear esse empadão, Vencido pela falta de patriotismo, E pelo atual preço do feijão.